sexta-feira, 28 de maio de 2010

FELIZ aniversário?!


As pessoas ainda estranham em ver o meu desgosto de fazer aniversário. - Imagine, você é tão jovem. Só tem 18 anos! - . Entendam, eu não gosto. Não gosto de fazer aniversário desde os 15 anos. Aqueles costumes de comemorar e presentear, como se fosse legal envelhecer. Tentam, ainda, agradar quem envelhece ou fazê-lo esquecer que, salvo este dia parecer só de um dono, todos envelhecem diariamente, minutamente, e não anualmente como as lojas de presente e bares se especializam em lucrar. É chato fazer aniversário. É chato fazer festa de aniversário. Pior, então, ser alvo do maldito parabéns. Eu, pelo menos, nunca sei que o fazer nessas horas. Cantar? Sorrir? Me esconder? Eu tenho vontade de chorar.Amanhã é meu aniversário. O telefone vai tocar logo cedo, e minha mãe vai brigar porque eu vou dizer que não quero atender. Me dará um beijo, como todos os anos passados, e me tratará como uma retardada o resto do dia - ôÔôô Meu bichinho tá ficando velhiiiinhaaaa búbúbú!-. O dia será igual, os pássaros não cantarão com mais vontade e o sol não brilhará mais que de costume. As pessoas me dirão parabéns, muitos anos de vida e juízo, hein? Eu vou sorrir, com vontade de chorar, e agradecer. A tia chata vai me dar meias, e a avó mandará uma telemensagem bem bonita e original. Eu vou chorar, e todo mundo vai perguntar se a telemensagem foi tão emocionante assim. Os assuntos de família serão colocados em dia. E com certeza algum filho da puta irá perguntar do meu ex namorado. Terei que responder com sorrisos aqueles engraçadinhos sem assunto que dizem "Qts anos mesmo?! Velhinha, hein HAHAHAHA!", e ser simpática com as tias que vão dizer "Ó, como ela cresceu! Tá uma moça!".
Ainda bem que a gente só faz aniversário uma vez por ano...Estou envelhecendo e vocês me parabenizando. Fala sério, vocês gostam ou não gostam de mim?




Eu escrevi esse texto aos 18 anos. Em alguns dias completo 23. Quem me conhece sabe, essa nao é uma das minhas comemoracoes favoritas. Quando completei 18 anos, o meu desejo era voltar para os 15. Eu sei que algumas das minhas experiencias de vida nao teriam sido vividas se eu nao tivesse completado 18 anos. O primeiro namorado, o primeiro emprego, a faculdade, a primeira viagem sozinha (que mudou completamente a minha vida), os amigos...
Meu sonho era conhecer Paris antes dos 25. Conheci com 21 e hoje, aos 22, estou vivendo na Holanda. Uau! Talvez tudo tivesse sido diferente se os meus desejos de nao ficar mais velha tivessem se realizado. Mas o maior tesao da minha vida era ir pra escola todos os dias, cabular aula, beijar os gatinhos do 3º ano, fumar escondido no banheiro. E o que mais me dói em tudo isso, na verdade, nao é ficar mais velha, entenda. É só esse nogocio de ter que aceitar que as pessoas simplesmente passam, mudar de habitos e de companhia a cada fase diferente da vida.

Algumas coisas do texto acima mudaram. O meu humor tambem, eu prometo. Hoje eu sei socializar, na maioria das vezes. Esse ano eu vou sentir falta da minha mae me tratando como uma crianca o dia inteiro, a minha querida vózinha, que se encontra no ceu, me ligando e passando uma telemensagem bem mela cueca e brega. Vou sentir saudade das tias, dos amigos, das meias, das calcinhas e todos aqueles presentes sem nocao.


Para quem interessa, eu estou bem e feliz, talvez apenas no inferno astral. As vezes tambem (assim como voce) nao consigo acreditar que larguei a minha vida no Brasil pra viver essa experiencia aqui. É preciso ter muita determinacao e forca, e eu nunca pensei que tivesse isso. By the way... Eu, geminiana que sou, ainda estou certa de cada passo que dei pra chegar ate aqui.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Que título?

As vezes tenho a sensacao de que estou aqui ha muito tempo, as vezes sinto como se fossem meus primeiros dias tambem. Engracado... Mas sabe o que é? Tem aquela sensacao ruim, uma falta de alguma coisa, um nó, uma coisa que nao vai embora e que consegue, repentinamente... Me deixar assim.

Estive viajando por alguns dias. E, apesar de adorar, uma hora bate saudade de casa, da privacidade (pra quem fica em hostel), do conforto e descanso. Pois bem, entao eu vim embora, mas o sentimento de de desconforto nao ficou por lá. Um saco. Sabe aquela sensacao ruim de cagar na casa dos outros? Apesar de ter o meu proprio banheiro, me sinto assim. Sempre pisando em ovos, cuidando pra nao feder demais, pra nao comer demais, nao dormir demais, nao falar demais, nao pedir demais... Acho que vai ser sempre assim. O ruim de sentir saudade é que nao importa o quanto isso doa, nada vai resolver. Nao importa o quanto isso doa, cara, nao tem solucao, sabe? Nao agora, nesse momento. E aí, comofas Bial?

Ja parei de ver tudo como novidade e agora ja reclamo profundamente por algumas vezes precisar acordar cedo e pedalar aos redores do rio Amstel nesse frio filho da puta. Ando dormindo demais, mas estou me alimentando razoavelmente melhor (troquei o pao por ATUM). Estou comecando a entender algumas (poucas) coisas em holandes e me sinto A fluente trocando frases dificeis com as criancas: qual seu nome, quantos anos voce tem e coisas do genero.

É isso, né Brasil? É o que tem pra hoje - e sempre: saudade!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Suflê de chuchu

Houve uma grande comoção em casa com o primeiro telefonema da Duda, à pagar, de Paris. O primeiro telefonema desde que ela embarcara, mochila nas costas (a Duda, que em casa não levantava nem a sua roupa do chão!), na Varig, contra a vontade do pai e da mãe. Você nunca saiu de casa sozinha, minha filha! Você não sabe uma palavra de francês! Vou e pronto. E fora. E agora, depois de semanas de aflição, de "onde anda essa menina?", de "você não devia ter deixado, Eurico!", vinha o primeiro sinal de vida. Da Duda, de Paris.

- Minha filha...

- Não posso falar muito, mãe. Como é que se faz café?

- O quê?

- Café, café. Como é que se faz?

-Não sei, minha filha. Com água, com... Mas onde é que você está, Duda?

- Estou trabalhando de "au pair" num apartamento. Ih, não posso falar mais. Eles estão chegando. Depois eu ligo. Tchau!

O pai quis saber detalhes. Onde ela estava morando?

- Falou alguma coisa sobre "opér".

- Deve ser "ópera". O francês dela não melhorou...

Dias depois, outra ligação. Apressada como a primeira. A Duda queria saber como se mudava fralda. Por um momento, a mãe teve um pensamento louco. A Duda teve um filho de um francês! Não, que bobagem, não dava tempo. Por que você quer saber, minha filha?

- Rápido, mãe. A criança tá borrada!

Ninguém em casa podia imaginar a Duda trocando fraldas. Ela, que tinha nojo quando o irmão menor espirrava.

- Pobre criança... - comentou o pai.

Finalmente, um telefonema sem pressa da Duda. Os patrões tinham saído, o cagão estava dormindo, ela podia contar o que estava lhe acontecendo. "Au pair" era empregada, faz-tudo. E ela fazia tudo na casa. A princípio tivera alguma dificuldade com os aparelhos. Nunca notara antes, por exemplo, que o aspirador de pó precisava ser ligado numa tomada. Mas agora estava uma opér "formidable". E Duda enfatizara a pronúncia francesa. "Formida-ble". Os patrões a adoravam. E ela tinha prometido que na semana seguinte prepararia uma autêntica feijoada brasileira para eles e alguns amigos.

- Mas, Duda, você sabe fazer feijoada?

- Era sobre isso que eu queria falar com você, mãe. Pra começar, como é que se faz arroz?

A mãe mal pôde esperar o telefonema que a Duda lhe prometera, no dia seguinte ao da feijoada.

- Como foi, minha filha. Conta!

- Formidable! Um sucesso. Para o próximo jantar, vou preparar aquela sua moqueca.

- Pegue o peixe... - começou a mãe, animadíssima.

A moqueca também foi um sucesso. Duda contou que uma das amigas da sua patroa fora atrás dela, na cozinha, e cochichara uma proposta no seu ouvido: o dobro do que ela ganhava ali para ser opér na sua casa. Pelo menos fora isso que ela entendera. Mas Duda não pretendia deixar seus patrões. Eles eram uns amores. Iam ajudá-la a regularizar a sua situação na França. Daquele jeito, disse Duda a sua mãe, ela tão cedo não voltava ao Brasil.
É preciso compreender, portanto, o que se passava no coração da mãe quando a Duda telefonou para saber como era a sua receita de suflê de chuchu. Quase não usavam o chuchu na França, e a Duda dissera a seus patrões que suflê de chuchu era um prato típico brasileiro e sua receita era passada de geração a geração na floresta onde o chuchu, inclusive, era considerado afrodisíaco. Coração de mãe é um pouco como as Caraíbas. Ventos se cruzam, correntes se chocam, é uma área de tumultos naturais. A própria dona daquele coração não saberia descrever os vários impulsos que o percorreram no segundo que precedeu sua decisão de dar à filha a receita errada, a receita de um fracasso. De um lado o desejo de que a filha fizesse bonito e também - por que não admitir? -uma certa curiosidade com a repercussão do seu suflê de chuchu na terra, afinal, dos suflês, do outro o medo de que a filha nunca mais voltasse, que a Duda se consagrasse como a melhor opér da Europa e não voltasse nunca mais. Todo o destino num suflê. A mãe deu a receita errada. Com o coração apertado. Proporções grotescamente deformadas. A receita de uma bomba.

Passaram-se dias, semanas, sem uma notícia da Duda. A mãe imaginando o pior. Casais intoxicados. Jantar em Paris acaba no hospital. Brasileira presa. Prato selvagem enluta famílias, receita infernal atribuída à mãe de trabalhadora clandestina, Interpol mobilizada. Ou imaginando a chegada de Duda em casa, desiludida com sua aventura parisiense, sua carreira de opér encerrada sem glória, mas pronta para tentar outra vez o vestibular.
O que veio foi outro telefonema da Duda, um mês depois. Apressada de novo. No fundo, o som de bongôs e maracas.

- Mãe, pergunta pró pai como é a letra de Cubanacã! -Minha filha...

- Pergunta, é do tempo dele. Rápido que eu preciso pro meu número.

Também houve um certo conflito no coração do pai, quando ouviu a pergunta. Arrá, ela sempre fizera pouco do seu gosto musical e agora precisava dele. Mas o segundo impulso venceu:

- Diz pra essa menina voltar pra casa. JÁ!


Luís Fernando Veríssimo

Precisa dizer mais alguma coisa?
Hahahahahaha

terça-feira, 4 de maio de 2010

Guess?

Oi, sumi nao. To bem. E voce? É claro que eu vou comecar com aquele assunto chato, a comida. Acho que estou virando vegetariana, estou partindo para o meu segundo mes aqui e comi carne apenas 2 vezes. Sem contar as visitas ao Mc Donalds, ok. Mas aquilo nao é carne e, alias, eu to CANSADA de fast food. Minha host continua cozinhando mal e eu continuo correndo da comida dela. Algumas vezes to ousando cozinhar, e fico toda contente em comer arroz com ovo, arroz com salada, arroz com feijao, arroz com arroz, ou so feijao, ou feijao e qualquer coisa. Sutilmente, eu inclui meu cardapio nas contas da casa. Ela me deixa todos os dias uma carteira com algum dinheiro para comprar algo, se necessario. Pois bem, cansei de passar fome. Comecei a comprar com o dinheiro dela a minha comida. Mas creia, nao compro nada demais, alem de arroz, salada, ovo etc. Carne é muito caro aqui. A familia que moro me deu a desculpa que eles preferem coisas mais leves, mas depois que conheci o preco da carne entendi o que eles querem dizer com coisas mais "leves". E assim vivemos de pao, pao, pao, pao... Socorro! O pao aqui em casa tem tanta, tanta fibra que, dependendo do angulo que voce observar (me desculpem), parece comida de gato. É sério.

Acho que tenho mais coisas pra contar, mas deixa pra la. As criancas estao de ferias e estao destruindo a casa, preciso impedir! Tchau!

ps: estou de ferias das aulas de musica :)

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